ONDE ESTÁ O MANUAL? *CRÔNICA
Agora entendo porque Cristo precisou vir à Terra. Foi para que tivéssemos esperança de sermos felizes e justos um dia. Não certamente neste mundo, não certamente nesta vida, mas para que não nos desesperássemos na impossibilidade de amarmos e sermos amados de verdade .
De uma coisa tenho certeza: não existe homem justo sobre a face da Terra. Não existe perfeição. Tudo é um questão de porcentagem. Tudo é uma questão de contexto. Tudo é ocasião, momento, situação. Ás vezes, o ser humano se divide entre razão, princípios e emoção.
No amor só há uma certeza: amamos ou não. Só podemos ter certeza do que sentimos em relação a outros. O que os outros sentem jamais saberemos, jamais teremos certeza. São muitos os mistérios da alma humana; são muitos os sentimentos que os homens carregam ocultos. Só podemos saber da nossa verdade pessoal. Ninguém mais, a não ser nós mesmos, temos plena consciência de tudo porque passamos, de todos os fatos e acontecimentos desde o momento em que começamos a existir.
Não existe padre ou psicólogo que possa afirmar com certeza: eu o conheço!
Só quem nos conhece mesmo é o nosso Criador. A verdade absoluta só existe entre Criador e Criatura.
Um pai, uma mãe, porventura podem dizer, sem medo de errar: eu o conheço, é meu filho! Não acredito. Podem intuir muita coisa mas cansamos de ver casos em que o pai e a mãe se surpreendem profundamente com os feitos de seu filho. Muitas vezes os ouvimos dizer: jamais poderia imaginar que meu filho fizesse isso!
É cruel pensar assim. É amargo demais não ter a possibilidade da entrega total, da confiança total, mas é assim que é.
Certeza? Só em Deus! Amor verdadeiro e pleno? Só de Deus. Só ele sabe se vale a pena nos amar. Só ele nos conhece. Só ele a tudo assiste e de tudo está ciente. E essa ciência inclui não só nossos atos, mas nossos sentimentos e todos os porquês, todas as circunstâncias provocativas dos mesmos; essa ciência inclui o conhecimento na linha do tempo, o acúmulo de fatos e acontecimentos que vai nos transformando para pior ou para melhor.
Quantas das coisas inexplicáveis que fazemos só pode ser explicada por Deus porque só ele conhece nossa linha do tempo toda? Às vezes algo que fazemos hoje é conseqüência apenas de algo que nos aconteceu a muitos anos. Sem o todo, vendo só a parte, como julgar com justiça? A justiça se faz ao longo da eternidade e só a Deus compete. O que nós, simples mortais podemos fazer, é nos afastarmos de quem, a nosso ver, nos prejudica. O que nós, simples mortais, podemos fazer é tentar nos proteger, proteger a nossa vida e as das pessoas a quem queremos bem.
Se Cristo já perdoou por antecedência todos os nossos erros e já pagou adiantado por eles, foi para que soubéssemos que é assim que deve ser. Que se temos o livre arbítrio, que se temos a possibilidade sempre da escolha entre o mal e o bem, por outro lado, não temos a clara visão de onde é que o mal e o bem se escondem e se mostram. Às vezes, achamos que estamos fazendo o bem quando na verdade estamos ajudando o mal. Tudo muito complicado mesmo! E a questão ainda se complica mais ainda quando pensamos nas nossas ferramentas de trabalho: nosso cérebro, nosso poder de conhecimento, análise, julgamento, etc...
Já dizia nosso Mestre : felizes os pobres de espírito! Deles é o reino dos céus! É lógico: tudo fica mais simples quando é assim que vemos as coisas : superficialmente.
Para muitas pessoas dois mais dois são sempre quatro. Jamais se questionarão se existe o menos dois mais menos dois igual a menos quatro. Para eles só os números naturais existem: um, dois, três, etc... Sabem que existem números negativos porque se vão à feira com quatro reais e gastam dois, voltam para casa só com dois. Mas ficam por aí mesmo. Não refletem profundamente sobre isso. Só fazem uso dos números na sua vida prática.
Assim parece que somos nós todos. De vez em quando, algo nos faz parar para pensar. Na maior parte do tempo agimos “no piloto automático”. E quando de repente esse piloto automático emperra e precisamos assumir o controle, torna-se bem complicado! Não estamos preparados! Parece que perdemos a habilidade de raciocinar rapidamente e agir racionalmente, com clareza e precisão.
Entramos em estado de choque; brecamos nosso carro – nossa vida – estacionamos no acostamento e ficamos ali parados, desolados, sem saber o que fazer, como agir e até mesmo, o que sentir.
Na verdade somos muito complicados e tão imperfeitos no julgamento que até no nosso auto – julgamento erramos. Não estamos capacitados a julgar nem a nós mesmos de um modo racional porque nem sempre conseguimos nos auto – enxergar com clareza : não temos consciência do que somos.
Então o que nos resta? Então o que temos para nos ajudar nessa complicação imensa chamada vida?
Acho que “alguém” deixou algumas dicas importantes: amor, perdão, bondade, clemência, fé, obras, etc..., etc..., etc...
E onde está esse manual mágico e salvador? Onde está escrito, esse guia para cegos? Onde está essa porção mágica para dor? Onde está esse mágico elixir para a juventude eterna? Onde este fortificante para as nossas doenças do corpo e da alma?
Está no livro. É, porque “Bíblia” quer dizer: livro. Esse é “o livro”, por essência. Foi escrito através do tempo por muitos homens que presenciaram a história humana, que desligaram o piloto automático para escrever seus textos.
E o maior deles, Cristo, como já veio com o piloto automático desligado, só o que fez foi propor soluções, nos evangelhos. Ele “sabia” a história humana. Ele não precisava pesquisar nada. Ele já sabia de tudo. O tempo, o espaço, o espírito e a matéria não tinham segredos para ele: ele era a verdade e a vida. Por esse motivo ele não tinha perguntas; só tinha respostas.
E algo importante que ensinou é que o homem tem que começar a pensar com o coração e não com a mente. Pensar com a mente gera dor, decepção, desespero, desilusão, vazio profundo, desinteligência, estupefação, impotência e medo; um medo muito grande de se sentir ignorante, infinitamente ignorante– que é o que nós seres humanos somos.
Mas, se pensarmos com o coração e deixarmos a justiça para o tempo, se perdoarmos por antecedência, se justificarmos a todos, nos sentiremos melhor porque teremos a certeza de que não estamos prejudicando ninguém.
Deixemos o mal para o mal e que ele se coma a si mesmo e se auto-destrua.
Permitamos a nós mesmos sentirmo-nos envoltos na luz branca da paz, do amor e da bondade. As trevas que se danem! Não são problema nosso! Se quisermos ser da luz, da luz seremos.
Fico pensando: será que nós seres humanos somos capazes de estendermos a mão e trazermos uma só pessoa que seja para a luz?
É difícil! Talvez não impossível! Mas não custa tentar, tentar e tentar porque será bom ver pessoas que a gente amou ao nosso lado. Já pensou que chato seria a eternidade em meio a estranhos?
Claro que não saberemos com a razão se são estranhos ou não porque seria muito triste procurar pelos amados na luz e descobrir que não estão por ali. Não haverá felicidade nem vantagem nenhuma em estar na luz então. A luz não permitiria tal absurdo. Mas o nosso coração, na luz, vai poder sentir o amor dos outros corações amados. Nossa mente não mais existirá, mas nosso coração continuará a sentir. E o nosso coração é a nossa alma.
Então precisamos sempre agir com o coração, sempre seguindo nossas intuições e sentimentos de bondade, perdão e amor. Assim erraremos menos. Pelo menos, é o que está no “manual”.
Viver não é fácil! Viver não é brincadeira! É o maior dos desafios! É “a” batalha. Permanecer vivo, apesar de tudo, permanecer vivo em plenitude, e não apenas sobreviver, é o grande desafio. Porque na verdade, corremos o grande risco, enquanto humanos, de “ligar o piloto automático”, e depois esquecer onde guardamos o “manual” quando o piloto automático falhar.
Guardemos então o manual no coração para que a ele tenhamos acesso rápido em caso de necessidade.
Rita Velosa
Favor sempre citar a autoria.
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