Imponderável
Já havia lido “Eram os Deuses Astronautas” de Erick Von Danniken.
Mas , até então, apesar de atraída pelo mistério que perspassava toda sua obra, achava-o um pouco pirotécnico demais. Aquela salada mista de Antropologia, Arqueologia e Ficção Científica era bem saborosa, mas era só. Li seu livro como quem lê Arthur Clark ou Aldous Huxley; fascinada pela engenhosidade e criatividade , mas céptica em relação aos fatos relatados. Eu era meio “São Tomé” - só acreditava no que podia comprovar concreta e cientificamente.
Hoje sei que isso era uma grande bobagem de minha parte. Existem realmente mais coisas entre o céu e a terra do que pode a nossa ciência humana explicar ou comprovar.
O ano era 1972;o mês, Julho.
Estávamos em férias na fazenda. A Bálsamo ficava no Planalto Central Brasileiro, mais precisamente, no extremo sul do Estado de Goiás.
Assim se chamava porque nas suas matas havia muitos Bálsamos, árvores constituídas de uma madeira avermelhada muito cheirosa e de excelente qualidade. Nos dias de hoje o Bálsamo já é raridade, uma pena!
Não tínhamos energia elétrica. A iluminação era feita com lampiões a gás. Assim que escurecia, o breu era total! Por quilômetros e quilômetros, até o horizonte, não se via luz alguma.
A vila mais próxima ficava a quarenta quilômetros de distância e era realmente muito pequena; algumas poucas ruas apenas. Nada interferia no negrume.
Não havia quem não gostasse de sentar-se, na varanda da casa, após o jantar, para uma conversa em voz baixa.
Sim, conversávamos baixinho como que não querendo perturbar a paz do ambiente. Podíamos escutar as cigarras, os grilos, os sapos e as corujas piando. De vez em quando saíamos da varanda e caminhávamos alguns metros, sentávamos num tronco de aroeira que jazia deitado no centro do pátio em frente à casa e ficávamos observando o céu.
Eu sempre conseguia localizar e identificar As Três Marias e o Cruzeiro do Sul e era só.
Mas eu tinha um cunhado que era especialista; ele tinha até um telescópio pequeno que armava para observar o firmamento. De vez em quando me chamava para mostrar um planeta ou uma estrela em especial.
Nessa noite fazia frio e a família preferiu se reunir na sala da frente da casa, ao redor da rede de meu pai , para ouvir os “causos” que ele adorava contar.
Minha avó, minha mãe e eu saímos, apesar do frio, para a varanda da casa, para fumar e conversar um pouco.
Lá dentro ,todos riam. O “causo” do papai devia ser muito engraçado!
Sentamos no banco de aroeira da varanda. Deviam ser nove horas da noite, tardíssimo no sertão! A noite estava linda; o céu todo estrelado.
Papai havia plantado umas fileiras de Eucalipto em frente à casa, a uns cem metros, para barrar o vento. Já deviam estar com uns cinco metros de altura.
Atrás deles era só pasto para o gado, plantado com capim braquiária. Então, eu ainda podia observar o horizonte longínquo do planalto por entre os Eucaliptos, um velho hábito meu.
A conversa entre nós três estava animada. Enquanto falava , eu observava o horizonte .
De repente, por detrás dos Eucaliptos, surgiu uma imensa bola de luz branca. Parei a frase que estava dizendo pelo meio, arregalei os olhos e fiquei com a boca aberta, paralisada!
Minha avó e minha mãe olharam na direção do meu olhar e também emudeceram. Ficamos assim imóveis e em silêncio por uns quinze minutos. Não conseguíamos pronunciar uma palavra sequer.
A bola branca de luz tinha dois raios de luz também branca, laterais, que corriam paralelos ao chão e que iluminavam o horizonte todo. Levantou-se acima dos Eucaliptos e ficou parada por um tempo. Depois, moveu-se para a esquerda, lentamente; depois para a direita, também lentamente. Em seguida, voltou para o ponto inicial, acima dos Eucaliptos e ficou ali parada Devia estar a uns três quilômetros de distância.
Nesse momento, minha avó murmurou:
___ Vocês estão vendo o que eu estou vendo?
Minha mãe e eu respondemos baixinho:
___ Estamos!
Minha avó então disse:
___ Ai, Jesus! E se isso vier para cá? Ai, Jesus!
Estávamos apavoradas as três. Então, de repente a luz zarpou. Riscou o céu e sumiu!
Começamos a gritar e o pessoal da casa saiu imediatamente para nos socorrer, achando que era cobra. De vez em quando, alguma resolvia passear pela varanda e então era um “perereco”! Mas não era cobra dessa vez.
Contamos tudo a eles, ainda muito nervosas e agitadas.
Minha avó falava pelos cotovelos e agitava os braços para descrever os movimentos da bola de luz.
Meu pai foi o primeiro a rir e a desacreditar de nossa história. Achou que estávamos tentando fazer concorrência para seus “causos” e levou tudo na brincadeira- talvez para acalmar a todos.
Papai perguntou-nos porque não havíamos chamado a todos para ver também. Explicamos que não havíamos pensado nisso na hora porque estávamos apavoradas.
Minha irmã Rute saiu praguejando por não a termos chamado. Queria muito ter visto!
Papai falou em fogo-fátuo; tentou outras explicações, tais como algum peão andando no pasto com um lampião, etc...
Mas protestávamos: não fora nada disso que víramos! Era algo novo, que nunca havíamos visto antes: enorme, silenciosa e inexplicável!
Imponderável: elemento ou circunstância indefinível que influi em determinada matéria ou assunto.
Até então, a palavra não havia me chamado a atenção.
Ao longo destes anos todos, passei a pensar muito nesta belíssima palavra. Me pego às vezes sussurrando- a lentamente, maravilhada:
____Im-pon-de-rá-vel! Im-pon-de-rá-vel! Im-pon-de-rá-vel.....
E isto me traz um prazer singular, um êxtase misterioso, que parece acender instantaneamente minha imaginação e que a põe para trabalhar fervilhantemente.
Até hoje não consegui explicação lógica para o imponderável, é lógico!
Como explicar o fato de as descrições do “avistamento”, de minha avó, de minha mãe e minha serem idênticas? Alucinação coletiva?
____Im-pon-de-rá-vel.....
Rita Velosa
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