DESPEDIDA

No silêncio calmo da noite,
quando o respirar se percebe,
quando o coração se ouve,
espero o encontro final.
Antes da despedida chegar,
lágrimas, gotas amargas
não tardam no rosto a rolar.
No silêncio da noite fala a alma,
chora,conversa,discute;
pára às vezes para ouvir
essa paz tão imensa
que nem sempre é para a gente;
...às vezes a alma recorda
coisas que vêm de repente.
A espera ansiosa presente
faz do tempo tema,
faz de si tormento.
O momento chegou.
Ei-lo despreocupado,
ei-lo que surge feliz!
É o nosso último encontro.
Vou partir.

Rita Velosa
Favor citar sempre a autoria.

ESCREVER NAS ESTRELAS

Triste destino o de certas mulheres!
Amam muito, são muito amadas.
Mas reciprocidade? Jamais!
Parece que vem escrito nas estrelas:
serás só, não terás filhos mas viverás muito!
Amarás profundamente.
Sofrerás viceralmente.
E serás enganada e usada,
roubada,
explorada,
agredida.
Lutarás muito, mas nada conseguirás.
Pensarás que és , mas não serás.
Acharás que conheces,
mas não conhecerás.
Acharás que és feliz,
mas logo descobrirás que não és.
Acharás que sabes,
mas descobrirás que nada sabes.
Acharas que és corajosa.
mas descobrirás que és covarde.
Acharás que és linda,
mas a vida te fará feia.
Acharás que és pura,
mas pura não serás.
Acharás que és muito boa,
mas te descobrirás vingativa.
Acharás que não és possessiva,
e te descobrirás dominadora.
Acharás que és sábia.
e te mostrarão o contrário:
que és mais uma na multidão.
uma, como todas as outras.

Seu grande sonho então será:
retornar para as estrelas e reescrever o que lá está.
Mas ... és apenas uma mulher.
E mulheres não escrevem nas estrelas.
Lá , só Deus escreve.

Então tentarás escrever aqui na Terra
para purgar feridas que ninguém vê,
só você sabe, só você vê, só você sente.

Rita Velosa
Favor citar sempre a autoria.

ÀS TRAÇAS A MADEIRA

Me jogo às traças,
lenho vivo,
seiva pura.
Penso em você,
lenho novo, seiva nova.
A música soa,
a seiva corre,
a imaginação voa,
E você vem.
E a gente se encontra,
se toca, se ama;
Não importa o amanhã!
O ontem, já é ontem!
O que importa?
A vida é um lenho;
a seiva corre.
Que você me adore!
Bom é ousar!
Bom é viver!
O resto ?
É o resto...
Vem!
Quero amar!

Rita Velosa
Faver citar a autoria.

CHUVA

O pingo
pinga,
respinga,
no vidro,
espirra,
escorrega
e cai.
Meus olhos
perto,
molhados,
também tem...
um pingo
que pinga,
respinga,
espirra,
e desce
na face
a rolar.
Chove lá,
chove aqui;
Chove...
Em todo lugar

AH , NATUREZA...!

Há meses me abrigo nesse mundo de sonho e perfeição;
a cidade distante não me afeta;
a televisão não me prende,
as pessoas não me alcançam.
Sinto o verde, a chuva, o ar,
o arrulho dos pássaros ,
o calor e o crepitar do fogo.
Sinto na pele um frescor de igarapé,
um calor morno de sol de verão,
um tremor de vento de ocaso,
nos ossos e nos dentes.
E de repente fico triste,
pensando em perder essa terra,
esse ar, essas águas, essas luzes,
esses verdes multicolores,
esses espaços de mil e um amores...
Ah! Eu quero esse ar, essa chuva, essa luz,
esse cheiro de mato, esse cheiro de vida,
esse barulho de amor.
Ah, natureza!
Me leva.
me côa,
me engole toda!
Aos poucos....
que é para eu saborear!

OCASO

É quando
Dia e noite
se olham,
se falam,
se riem.
É tudo
e nada:
a luz
nas trevas,
as trevas
no sol.
É quando
tudo
se sente,
tudo
é possível,
verdadeiro
e confuso.
É quando
se sente medo,
se sente paz,
se sente
que se pode sentir!

Rita Velosa
Favor citar sempre a autoria

COMPASSO DE ESPERA

Um compasso de espera...
que vem entre o nada e o nada;
um grande silêncio musicado,
uma imensa agonia ritmada,
uma constante tortura temporal.

Um compasso de espera...
entre a morte e a morte.
Um masoquismo aceito por todos,
um coletivo teimar utópico
em desvendar o nada.

Um compasso de espera...
entre o antes e o depois.
Um sadismo de alguém,
aceito por todos.

Um momento de união
do tempo com o infinito:
um compasso de espera.

Rita Velosa
Favor citar sempre a autoria.

AR

Teu silêncio...
Teu mistério...
Minha imaginação...
Teu nada é tudo:
toda possibilidade,
toda probabilidade,
toda prestidigitação.

Aventurar!
Vem me olhar!

Vou te olhar.
Vamos ver no que vai dar.

Toda emoção que pintar!
Muita música no ar,
um mole nas veias,
vontade de ficar.

Só verbos no ar!
Só verbos em ar!

Rita Velosa
Favor citar sempre a autoria.

VIDA

Nasce-se;

E , aos trancos e barrancos,
Vai-se indo de ilusão em ilusão.
Um vestido novo,
Um parente morto,
Um sorrir,
Um chorar.

Vive-se num mar de rosas.
De repente : um abalo.
Adeus à alegria.
Compreende-se a vida.

Dorme-se.

Amanhã nada mais surpreende,
Nada mais resta do abalo.
Com raízes fortes se esquece.

Vida mistério infindo,
Inúmeras ilusões...
Ora alegres,
ora tristes.
Nada mais!

Rita Velosa
Favor citar sempre a autoria

PAPO CABEÇA

"

Eu hoje aqui me sentei,
Prá pichar os males do mundo;
Prá falar da fome, do medo,
Dos crimes, das agressões,
Das incompreensões,
Das prisões,
Das organizações,
Das instituições,
Das perdições,
Das omissões,
Das prostituições,
Das doenças,
Das desavenças,
Das maledicências,
Das indecências,
Das incoerências,
Dos preconceitos,
Das injustiças,
Das ganâncias,
Das ignorâncias.
Mas, de repente...
Me lembrei
De Maomé,
De Confúcio,
De Cristo,
De Mao,
De Marx,
De Gandhi.
Então desisti.

Rita velosa
Favor citar sempre a autoria

HOMENAGEM A BUSSUNDA

Uma noite por semana
Meu sorriso se alargava.
Vendo Bussunda da cama,
O meu quarto se alegrava.

Com certeza o Planeta
Está mais triste neste dia.
Seu palhaço irreverente
Não vai mais dar alegria.

Não vai dar prá nós aqui,
Pois prô céu já se mandou;
Deus o chamou para si.
Quando a coisa pretejou.

Com certeza lá no céu,
A torcida se inflamou.
Com Bussunda o povaréu
Todo se entusiasmou.

Grita Bussunda de lá:
Olha “gordo” estou aqui!
Se você não se mancá,
Te atiro um abacaxi!

Trate de ganhar a taça
Porque Deus é brasileiro.
Trate de alegrar a massa
E se esqueça do dinheiro!

Rita Velosa
Favor citar a autoria

TRISTE DELETÉRIO

Me pergunto donde, sem hesitar!
Donde a solidão te guarda?
Donde aprendeu a viver assim?
Minha morada não a encontro
(Embriagado de solidão)
Vivo a perguntar...
A vagar...
Zumbi de mim mesmo...
Quando foi o triste deletério?
Guardo esta teima prá ti
De que o imbróglio vai perdurar.
Vai querer?
Então venha buscar
(Este retrato de uma alma perdida)
O coração sufocado
Vilipendiado...
Lugar do desconhecido
Mas que tem muito amor pra dar!
O amargo do desejo
O doce de amar
Vai findar?
Uma moeda suja
Um mendigo fedorento
Um pão velho
Uma fila de militantes da hipocrisia...
Vai encarar?
Mais uma estação...
Estamos em mais uma estação!
O metro corta o silencio mortal
Macio...
Metálico...
Uma sobremesa no jantar...
Flores...
E eu te pergunto:
- Vai querer?
Então venha me buscar!
Tire-me daqui
Nos leve para outra estação
Donde a luz ofusque a visão
De ti olhando para mim
Dizendo-me com os olhos límpidos
O que seu coração sem coragem
Sem atitude
Arrogante por si só
Sempre quis dizer...
O que nossas almas sempre souberam
E não nos contaram!
Mas foi sem querer...
Sem querer...
Foi sem querer!
Então deixe estar...

Roberto Mac Intyer Simões
Favor citar a autoria.

ABSTRAÇÕES

Abstrações

Eu era pequena...Ave Maria cheia de...
ilusões, esperanças mil...
O senhor é convosco,
bendita sois...
ingenuidade sem par,
milhões de pequenas alegrias...
Bendito é o fruto do ... eu era.
Não, não só era.
Restam ainda fragmentos de valores,
que o tempo não pôde destruir.
“A cada minuto se morre um pouco.”
Válido para o corpo,
não para o espírito.
Os valores espirituais se renovam,
a cada instante,
a cada segundo,
a cada minuto.
Uma esperança morre...
Outra logo surge.
Assim,
o desencontro antecede o encontro;
constante ir e voltar,
sem conhecer o caminho.
Nasce-se,
e aos trancos e barrancos,
vai se indo...de ilusão...em ilusão.
Ah!
Vida mistério...
Nada mais.
Amém.

Rita Velosa

Favor citar sempre a autoria.

"BIGATO" E "RATA" JUNTOS NO BLOG

Depois de dois tio-avós,de meu pai e de mim,os escritores e poetas da família,não via mais nenhuma luz no fim do túnel.Agora vejo um grande farol aceso que chega a cegar a vista,uma benção de continuidade:esse meu sobrinho, o Billy Bigatto.Agradeço a Deus por permitir que nós faroleiros de almas tenhamos continuidade neste mundo através do Billy,o filho que eu queria ter e não tive.
Rita B.S.Velosa.

SOLIDÃO

É.............

não sentir,
se isolar;
querer,
sem saber,
se tornar,
se voltar,
se encontrar
em si mesmo.
É
não querer,
não poder,
não saber
ver ninguém.
É cair,
não sair,
de um lugar
que é só seu;
se trancar,
se isolar,
consentir,
permitir,
que o vazio
seja o mais,
seja o resto,
seja tudo,
só sobre você

Rita velosa
Favor citar sempre a autoria.

BEM-VINDO BILLY BIGATO!!!

O Poeta Roberto MacIntyer Simões a partir
de hoje faz parte do Blog como MEU PARCEIRO.
Assinará como "BILLY BIGATO" ou "BIGATO",
codinomes já bastante conhecidos dos leitores
de bom gosto.

BIGATO ESCREVEU:
Esta acabou de sair do forno... escrevi essa
semana... mas preciso dar uma melhorada:
é só um esboço por enquanto!


RETRATO FALADO

Incógnito - como que esperando o semáforo em meio à multidão!
Incompreendido - vivendo numa sociedade estereotipada e retrógrada...
Indigesto - para o apetite de muitos trogloditas desumanos.
Infiel - sempre curtindo com o Deus dos pagãos.
Indisponível - pois no mercado igual não há!
Inquieto - uma mente brilhante exposta a ferro e fogo.
Invisível - uma alma vagando no deserto da vida...
Insensato - pelo mais sensato dos exames de sensatez.
Indelével - como se o tempo tivesse parado ao seu redor...
Inconsciente - drogado, entregue a imensidão do pensamento.
Injusto - apesar de nunca tardar, e às vezes falhar...
Intransponível - sua postura se ergue como uma muralha!
Intrépido - sem coragem e audácia não somos nada...
Inconseqüente - quem te conhece diz que mal você não faz...
Insatisfeito - sempre... queremos sempre mais!
Incapaz - será? (acho que não!).
Indolente - nem fale isso! O ócio corrói o ser humano...
Incompleto - dos amores e da solidão... nascemos incompletos!
Incoerente - e quem não o é?
Insensível - quem pode ser mais sentimental que eu?
Indomável - a não ser por ti... um louco apaixonado!

Pois bem... este sou eu!
Mas não era você?
(Como que num espelho velho
Nosso retrato se distorce
Mascarando a realidade...)
Não somos mais os mesmos
E num retrato falado
Informações são omitidas
E não se sabe dizer quem é quem...
Lunáticos são lunáticos
Todos iguais
Todos iguais!

BILLY BIGATO

Favor citar sempre a autoria.

GOOOOOOOOOOOOOLLL!!!

VIVA KAKÁ!!!!!!


Essa Copa começou
De um jeito esquisito
Coração quase parou
Ao soltar aquele grito:


GOOOOOOOOOOLLLLLL!!!!!

ATENÇÃO INTERNAUTAS:

1-SE QUISEREM LER CRÔNICAS,
CLIQUEM EM ARQUIVO
NO MÊS DE MAIO
POIS O MÊS DE JUNHO
É DEDICADO SOMENTE A POESIAS

2-SE QUISEREM VER MEU FOTOLOG
CLIQUEM EM " ATENÇÃO INTERNAUTAS"
(ACIMA)
OBRIGADA PELA VISITA.
SAUDAÇÕES DA AUTORA!
RITA VELOSA

LADAINHA

Vozes que soam em nervosos murmúrios...

Aguardam outras almas
Que estão prá nascer

Amantes que sopram palavras em murmúrios...

Namoram outras almas
E trazem o alvorecer.

Águas que correm em constantes murmúrios...

Enternecem outras almas
E fazem adormecer.

Ondas que quebram em cadenciados murmúrios...

Relembram outras almas
E fazem sofrer.

Ventos que movem as folhas em doces murmúrios...

Assustam outras almas
E fazem tremer.

Almas que oram em monótonos murmúrios...

Consolam outras almas
Que estão prá morrer.

Rita Velosa

Favor citar sempre a autoria

SALVAÇÃO

Pingos de chuva caem,
num respingar constante;
e caem e correm assim,
como os rios na vazante.
Árvores que sorvem aos poucos
a água limpa o bastante,
folhas novas que suspiram
num grito de salvação.
Balançam,agitam-se assim,
num ritmo louco incessante,
como a música do vento passante
num hino de alegria e vitória.
As luzes dos edifícios brilham
num sorriso radioso de chegada,
saudando a chuva que chega,
caindo em louca desabada.

Rita Velosa

Favor citar sempre a autoria

FALAR SOBRE A VIDA...

Shopping, DVD, TV;
Restaurante, barzinho e grana;
Carro, dívidas e salário;
Violência, tráfico e desemprego.
Abandono.
Desamor.
Solidão.
Falar sobre a vida?
Traição, injustiça e egoísmo;
Miséria, morte e doenças.
Budismo, Islamismo, Cristianismo,
E todos os “ismos”
Falei sobre a vida?
A alegria existe?
A perfeição existe?
O amor existe?
O que é o real?
O que é a fantasia?
E por que insistimos nesses sonhos?
O que significa eternidade?
E Deus?
Será mesmo o idealizador deste caos?
Será mesmo o sádico responsável
Por esse masoquismo universal?
Falar sobre a vida?
Falei sobre a vida!

Rita velosa

Favor citar sempre a autoria.

PASSAGENS

Aquele, que na vida só pensou,
padece pois da vida só partiu;
relembra que na vida se perdeu,
percebe que na vida não agiu.
Aquele que na vida se dispersou,
por certo não viveu, só se espargiu.

Aquele que na vida só agiu,
aquele que na vida só chegou,
aquele que na vida não sonhou,
aquele que na vida não partiu,
aquele que em si não se perdeu,
por certo não viveu, só realizou.


Rita Velosa

Favor citar sempre a autoria

A TELEVISÃO

Essa imagem maldita
Que não nos deixa a sós,
Essa imagem que diga.
Se nós não somos mais nós.
Essa imagem...não sei não...
É o nosso ópio maldito
É o nosso último abrigo
Diante da separação.
Essa imagem oportuna,
Que nos tira de sintonia,
Essa ladrazinha sutil...
Talvez seja uma solução!

Rita Velosa

Favor citar sempre a autoria.

HONRA TUA BANDEIRA !

( releitura de poema de Castro Alves )

Existe um povo que a bandeira empresta

Prá encobrir muita injustiça e omissão;

E deixa-a simbolizar essa grande festa

De covardia, violência e corrupção.

Meu Deus, meu Deus! Mas que bandeira é essa?

E que país é este, desavergonhado,

Que se expõe assim enlameado?

Patético pendão da minha Terra,

Que a brisa do Brasil ainda balança,

Símbolo que nossas vidas representa,

E nossas esperanças resistindo embala...

Tu, que sempre foste hasteada com amor,

Antes, te houvessem destroçado em batalha

Que servires a um povo que te emporcalha!

Mas é infâmia demais!

Povo! Honra esse pendão na praça!

Povo! Toma vergonha na cara!

Expurga do teu seio esses males!

Põe prá fora esses corruptos !

Trabalha e reparte o teu pão com mais justiça!

Brasileiro: honra tua bandeira!

Rita Velosa

Favor citar sempre a autoria.

DESAFINAR

Crescer.
Viver.
Conhecer.
Tocar o barco.
Seguir a vibração.
E então...
D e s a f i n a r.
Disparar o coração!
Delírio do nada!
Vácuo da solidão!

Rita Velosa
Favor citar sempre a autoria.

SONHAR

Prá variar...
Bom se alienar!
Bom só ver o bem!
Emocionar corações.
Invadir compassos.
Sonhar é a única perfeição!
Aventura indefectível,
não-falível,
onisciente,
onipotente,
onipresente.

Rita Velosa

Favor citar sempre a autoria

ONDE CANTA O RA-TA-TÁ

(releitura de poema de Gonçalves Dias)
Autora : Rita Bernadete Sampaio Velosa

Minha terra é uma lixeira,
Onde morre o sabiá.
Os homens que aqui pranteiam,
Não pranteiam como lá.

Nosso céu tem mais sujeira,
Nossos morros tem mais vícios,
Nossos bosques tem mais mortes,
Nessas mortes mais que bichos.

Em cismar sozinho à noite,
Mais sossego encontro eu cá;
Minha terra tem vizinhos,
Onde canta o ra-ta-tá...

Minha terra tem rumores,
Que tais não encontro eu cá.
Em cismar sozinho à noite,
Mais terror encontro eu lá.

Minha terra tem vizinhos,
Onde canta o ra-ta-tá...
Não permita Deus que eu morra,
Sem que me esqueça de lá!

Sem que desfrute os primores
Que só encontro por cá.
Sem que me esqueça dos morros,
Onde canta o ra-ta-tá.....

Rita Velosa

Favor citar sempre a autoria.

ENCONTRO ACIDENTAL

Eu sou verdade,
você mentira.
Eu sou luz,
você sombra.
Eu sou o sol que ofusca,
você a lua que se esconde.
Certa vez atrasei-me ao recolher
e você apressou-se em aparecer.
Brilhamos juntos por um instante.
No mesmo céu lá estávamos:
Eu _ uma estrela _
a refrescar-me na sua sombra;
você _ um satélite _
a aquecer-se e iluminar-se na minha luz.
Mas, apesar de juntos, ali, no mesmo horizonte,
apesar do prazer que isto nos causou,
nem eu vi você, nem você a mim...
Meus olhos não eram para as sombras
nem os seus para a luz.
Mas eu o adorei mesmo assim...
às cegas.

Rita Velosa

Favor citar sempre a autoria.

A LÁGRIMA

Aparece no rosto de alguém,
Sem se saber de onde vem.
Cresce, escurece a feição contraída,
Escorre pelo rosto traída.
Sensação quente e gelada,
De um pingo de água parada,
Nos olhos de quem não quer ver,
De quem não quer saber.
Porém...
A lágrima ali está,
Testemunha do que se tem no âmago,
Solta...
Sem que queiramos,
Aos outros mostrando o que somos.
A lágrima:
Um pingo de água salgada,
Uma gota do oceano do nosso ser,
Quebrando na praia dos olhos,
Escorrendo, às vezes, no rochedo de uma face.

Rita Velosa

Favor citar sempre a autoria.

VIDA BANDIDA

( Releitura de poema de Casimiro de Abreu )

Ah! Que angústia que trago,
Da aurora da minha vida;
Da minha infância perdida,
Que os anos não refazem jamais!
Que fome, que medo, que dores,
Naquelas tardes famintas,
À sombra dos toldos nas ruas,
Debaixo dos malditos sinais!

Como são tristes os dias
Do despontar da subexistência!
Respira a alma muita cola,
Como perfumes a flor.
O mar é miragem suprema;
O céu ,um ponto de fuga.
O mundo, um sonho assombrado;
A vida, um hino de dor.




Que aurora, que vida bandida!
Que noites de melancolia,
Naquela vivência maldita,
Naquele constante penar!
O céu, bordado de balas,
A terra, com aroma de morte;
As ondas, subindo a favela,
E a lua para as miras ajudar!

Ah! Dias de minha infância!
Ah! Meu céu infernal!
Que maldita a vida não era,
Nessa medonha manhã!
Em vez do ódio de agora,
Eu tinha nessas torturas,
De minha mãe a bravura,
E o consolo de minha irmã!

RITA VELOSA

FAVOR CITAR SEMPRE A AUTORIA.